Para que desejar os sonhos que morreram
E aquele antigo amor que nunca há de voltar?
Para que desejar as ilusões que foram
Silenciosamente, para que desejar?
Para que lamentar, amigo, a primavera de risos e sons que nunca há de retornar?
Para que lamentar os rigores do inverno
E as nevadas da vida... para que lamentar?
Para que suspirar por amigos que partem para longe de nós... e a dor de separar?
Para que suspirar, se os amigos não vêem a nossa solidão?
Para que suspirar?
Para que prantear os mortos bem amados,
E as vozes, doces vozes, que nunca hão de voltar
À magia do riso e à magia do canto...
Este silêncio eterno... para que prantear?
Para um sonho que murcha, mil sonhos reverdecem,
E nas cinzas do amor outro há de reflorir.
As ilusões que vão, elas também retornam
Silenciosamente, como as vimos partir.
A primavera volta e o sol e a claridade,
Seja um dia ou outro dia, hão sempre de brilhar;
A invernia se vai... e os rigores do inverno
A presença do sol não podem perturbar!
Há amigos que partem, e há amigos que ficam,
Cheios de amor profundo e de consolação;
Vivem perto de nós, mister os descubramos,
Para encher-se de sons a nossa solidão.
E, para que chorar os entes que morreram,
Se em nosso coração eles podem morar,
Se a saudade bem quer repetir suas vozes,
E eles podem viver dentro do nosso olhar?
E paira, além de tudo, esta grande certeza:
O meu Pai tudo vê, o meu Pai sabe amar...
Se o Pai cuida de nós e o seu amor é eterno
E a nossa vida breve... para que chorar?
(Daria Gláucia Vaz de Andrade)