domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sementes....


LUZES DO ARREBOL.

 "Todas as flores do futuro estão nas sementes de hoje."


  Você pode ficar ai deitado entre reclamações, ou levantar-se e buscar uma nova solução, quem sabe inventar o que ainda não existe?.
SEJA PRINCESA OU SEJA LAVADEIRA...
Pode queixar-se da falta de emprego ou oportunidades, 
ou varrer a calçada,
lavar um carro, capinar uma grama, olhar os filhos das vizinhas, fazer um bolo e vender aos pedaços.
QUANDO EU ERA MENINO,VIA A LUA SAINDO...
Pode isolar-se do mundo, 
afundar-se na idéia de que ninguém te quer, ninguém te ama e acabar descobrindo depois de muito sofrer que quem não te ama é você mesmo, pode brigar com seus pais, achando que você sabe tudo, que tem consciência do que é certo ou errado e quebrar a cara para reconhecer que o tempo e a experiência contam muito nesta vida.
Pode abrir a boca para reclamar,ou dizer uma poesia que emocione, pode falar mal do governo, ou enviar uma sugestão que ajude na solução do problema, pode cruzar os braços, ou estender a mão para o aflito, pode negar a esmola, ou ceder um pedaço do seu pão, pode ficar doente de amor, ou dar o seu amor aos doentes nos hospitais, pode tentar o suicídio, 
ou pode encarar a vida de frente e mandar um recado para o Universo:
Eu sou parte de Deus, 
sou a própria vida e vou plantar agora uma semente de felicidade, mesmo que regada com minhas lágrimas.
E essa semente vai gerar uma árvore, 
que dará frutos amorosos da minha decisão de viver e ser feliz, 
de amar e ser amado, 
de dar mais que receber, 
de recomeçar mesmo quando tudo é negação, ainda assim eu vou lutar, 
AMANHECEU,PEGUEI A VIOLA...
PLANTE FLORES,PARA QUE VENHAM OS COLIBRIS

e quando a minha árvore morrer, deixará na terra, ao menos uma semente de esperança, esperança de quem entendeu que viver é o melhor presente,quando se vive o presente com a experiência do passado 
e a certeza do futuro que projetamos com as nossas atitudes de hoje. 


Paulo Roberto Gaefke 
FOTOS DE LEONE LACERDA.
direitos de uso a quem interessar possa.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Para os que virão (Thiago de Mello)
Como sei pouco
e sou pouco,
faço o pouco que me cabe,me dando inteiro.
Sabendo,que não vou ver o homem que quero ser.
Já sofri o suficiente para não enganar a ninguém: principalmente aos que sofrem na própria vida,
a garra da opressão, e nem sabem.
Não tenho o sol escondido no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem para quem já a primeira e desolada pessoa do singular
– foi deixando, devagar, sofridamente de ser, para transformar-se - muito mais sofridamente - na primeira e profunda pessoa do plural.
Não importa que doa:
é tempo de avançar de mão dada com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja de aprender a conjugar o verbo amar.
É tempo sobretudo de deixar de ser apenas a solitária vanguarda de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
( Dura no peito, arde a límpida verdade dos nossos erros. )

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

 

Não estás deprimido, estás distraído.

(detalhe:eu,Leone...ja experimentei toda a lista abaixo!) 



Distraído em relação à vida que te preenche, distraído em relação à vida que te rodeia, golfinhos, bosques, mares, montanhas, rios.
Não caias como caiu teu irmão que sofre por um único ser humano, quando existem cinco mil e seiscentos milhões no mundo. 
Além de tudo, não é assim tão ruim viver só. 
Eu fico bem, decidindo a cada instante o que desejo fazer, e graças à solidão conheço-me. 
O que é fundamental para viver.
Não faças o que fez teu pai, que se sente velho porque tem setenta anos, e esquece que Moisés comandou o Êxodo aos oitenta e Rubinstein interpretava Chopin com uma maestria sem igual aos noventa, para citar apenas dois casos conhecidos.
Não estás deprimido, estás distraído.
Por isso acreditas que perdeste algo, o que é impossível, porque tudo te foi dado. 
Não fizeste um só cabelo de tua cabeça, portanto não és dono de coisa alguma. 
Além disso, a vida não te tira coisas: 
te liberta de coisas, 
alivia-te para que possas voar mais alto, 
para que alcances a plenitude.
Do útero ao túmulo, vivemos numa escola; por isso, o que chamas de problemas são apenas lições. 
Não perdeste coisa alguma: aquele que morre apenas está adiantado em relação a nós, porque todos vamos na mesma direção.
E não esqueças, que o melhor dele, o amor, continua vivo em teu coração.
Não existe a morte, apenas a mudança.
E do outro lado te esperam pessoas maravilhosas: Gandhi, o Arcanjo Miguel, Whitman, São Agostinho, Madre Teresa, teu avô e minha mãe, que acreditava que a pobreza está mais próxima do amor, porque o dinheiro nos distrai com coisas demais, e nos machuca, 
porque nos torna desconfiados.
Faz apenas o que amas e serás feliz. 
Aquele que faz o que ama, está benditamente condenado ao sucesso, que chegará quando for a hora, porque o que deve ser será, e chegará de forma natural.
Não faças coisa alguma por obrigação ou por compromisso, apenas por amor.
Então terás plenitude, e nessa plenitude tudo é possível sem esforço, porque és movido pela força natural da vida. 
A mesma que me ergueu quando caiu o avião que levava minha mulher e minha filha;
a mesma que me manteve vivo quando os médicos me deram três ou quatro meses de vida.
Deus te tornou responsável por um ser humano, que és tu. 
Deves trazer felicidade e liberdade para ti mesmo.
E só então poderás compartilhar a vida verdadeira com todos os outros.
Lembra-te: "Amarás ao próximo como a ti mesmo".
Reconcilia-te contigo, coloca-te frente ao espelho e pensa que esta criatura que vês, é uma obra de Deus, e decide neste exato momento ser feliz, porque a felicidade é uma aquisição.
Aliás, a felicidade não é um direito, mas um dever; porque se não fores feliz, estarás levando amargura para todos os teus vizinhos.
Um único homem que não possuiu talento ou valor para viver, mandou matar seis milhões de judeus, seus irmãos.
Existem tantas coisas para experimentar, e a nossa passagem pela terra é tão curta, que sofrer é uma perda de tempo.
Podemos experimentar 
 - a neve no inverno 
 - as flores na primavera, 
 - o chocolate de Perusa, 
 - a baguette francesa, 
 - os tacos mexicanos, 
 - o vinho chileno, 
 - os mares
 - os rios, 
 - o futebol dos brasileiros, 
 - As Mil e Uma Noites, 
 - a Divina Comédia, 
 - Quixote, 
 - Pedro Páramo, 
- os boleros de Manzanero 
- as poesias de Whitman; 
- a música de Mahler, 
- Mozart, 
- Chopin, 
- Beethoven; 
- as pinturas de Caravaggio, 
- Rembrandt, 
- Velázquez, 
- Picasso
- Tamayo, 
entre tantas maravilhas.
E se estás com câncer ou AIDS, podem acontecer duas coisas, e ambas são positivas:
se a doença ganha, te liberta do corpo que é cheio de processos (tenho fome, tenho frio, tenho sono, tenho vontades, tenho razão, tenho dúvidas)
Se tu vences, serás mais humilde, mais agradecido... portanto, facilmente feliz, livre do enorme peso da culpa, da responsabilidade e da vaidade,
disposto a viver cada instante profundamente, 
como deve ser.
Não estás deprimido, estás desocupado.
Ajuda a criança que precisa de ti, essa criança que será sócia do teu filho. 
Ajuda os velhos e os jovens te ajudarão quando for tua vez.
Aliás, o serviço prestado é uma forma segura de ser feliz, como é gostar da natureza e cuidar dela para aqueles que virão.
Dá sem medida, e receberás sem medida.
Ama até que te tornes o ser amado; 
mais ainda converte-te no próprio Amor.
E não te deixes enganar por alguns homicidas e suicidas.
O bem é maioria, 
mas não se percebe porque é silencioso.
Uma bomba faz mais barulho que uma caricia, porém, para cada bomba que destrói há milhões de carícias que alimentam a vida.
Se Deus possuísse uma geladeira teria a tua foto pregada nela. 
Se Ele possuísse uma carteira tua foto estaria nela. 
Ele te envia flores a cada amanhecer, a cada manhã. Cada vez que desejas falar Ele te escuta. 
Ele poderia viver em qualquer ponto do Universo, mas escolheu o teu coração. Encara amigo, Ele te ama.
Deus não te prometeu dias sem dor, 
riso sem tristeza, 
sol sem chuva. 
Porém Ele te dá força para cada dia, 
consolo para as lágrimas 
e luz para o caminho.
Não, … não estás deprimido, … estás distraído!


Facundo Cabral é compositor, poeta e jornalista argentino.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O ULTIMO VERÃO EM MARESIAS.



O sol se esconde, e o dia cansado se entrega diante da noite imensa.
Num canto do crepúsculo, os olhos voltados para o poente, pondero sobre a aridez dos caminhos por onde trilhei. Não sei se vou, não sei se fico.
Sobre a tarde que morre apenas deito o meu corpo cheio de perguntas e deixo-me envelhecer lentamente entre velhas anotações, discos e livros, dos quais não consigo me desfazer.
Escuro agora. A noite solta-me as mãos, os pés, mostra-me a partida e dá-me asas para voar dentro da névoa do passado. Sou livre então para correr, gritar e beijar a brisa, sou livre para penetrar a loucura, invadir as noites da minha adolescência e bater as minhas asas empalhadas além das estrelas.
Que me impede de ser um anjo doido e flutuar sobre as tardes coloridas da minha adolescência ? Que me impede de ser um anjo doido e procurar as respostas nas tardes ensolaradas daquele tempo que parecia sem fim ?
Uma música misteriosa me convoca. Parto sem medo.




Em casa os retratos e objetos da minha infância ainda estão espalhados pelas gavetas e armários da memória, preservando o mistério dos primeiros anos. Fotografias, livros, discos, revistas, ruas, não são apenas sombras, são objetos que reconstituem e moldam a transformação de meu rosto.
Durante o dia as portas e janelas todas abertas deixam entrar uma luz muita branca que ilumina por igual todos os mistérios, mas não os desvenda. Do lado de fora o grande areal branco e a velha casa de madeira ainda me espreitam, na medida em que vasculho os abismos da memória com um desenho de todo esse tempo nos bolsos, tentando descobrir o começo desta grande festa.




As gôndolas descem o Grand Canale, rumo ao poente. O pôr-do-sol é uma advertência e um aviso de morte que nunca enxergamos. Somos sempre felizes no último lugar onde estivemos, ou no próximo para onde vamos - só agora percebo isso.
O suor das máscaras do último carnaval de Veneza escorre por entre os meus dedos e lembro que estou em pleno processo de resgate da sucata do passado. Os farrapos de hoje, amanhã já serão apenas saudade.
O vinho acabou, a última gôndola já desapareceu no fim do canal, é hora de me despedir. Amanhã tomo um avião para Roma, só para assistir um show do Dire Straits. Em seguida retorno a Paris, walking in the wild west end, to meet my wild best friend.




Às vezes penso que não é o tempo que passa, somos nós que invadimos calendários e arrancamos dias, somos nós que construímos relógios e giramos os seus ponteiros enrugados, somos nós que inventamos minutos e carregamos horas dilaceradas em nossos bolsos vazios.
Às vezes me ocorre que não é o tempo que passa, somos nós que caminhamos para trás.




O céu derramou hoje um pouco de azul em meus olhos e as velhas ruas da infância morreram todas em mim.
Fui criança novamente, e vi o menino de calças curtas e suspensórios, descendo inutilmente a ladeira quando lá em cima já haviam lhe dito que ela rolara para o abismo. Vi o menino de pés sonhadores e cabelos despenteados descendo a velha rua da escola, os papagaios ainda enganchados nos fios, e os professores já escondendo a solução.
Começa a escurecer. O sol já se pôs por trás dos edifícios, o horizonte sangra novamente em escamas de nuvens, como nas tardes ensolaradas da minha adolescência, e vestido de solidão me integro na noite.


Dois homens, com cordas nas mãos, laçaram ontem o cãozinho que latia nas manhãs alegres da minha infância, e de repente o meu crepúsculo fez-se névoa e morte.
Mas uma música misteriosa salta agora das pautas negras da noite e faz dançar a nata das estrelas. Ressuscito então de incêndios que não chegaram a queimar e penetro esse mundo de mágicos.
A noite me oferece o punhal, a loucura e a angústia de ser livre. As estrelas me oferecem o ritmo, me dão o compasso deste meu cantar e o desespero de voar alto.
- Para que permanecer ?




Mais bonito que o teu sorriso, Marcela, somente a alegria dos papagaios coloridos que eu empinava nas manhãs alegres da minha infância.

Fechadas as portas e janelas da nossa casa, atravesso agora a moldura, como os outros. Do outro lado, frenéticos, as suas caras refletem em vitrais barrocos. Penetro a grande festa pelos lados, como quem entra em um cenário. E o meu cenário é cada vez mais o retrato de toda uma época, e a minha loucura a loucura de todo um tempo, de anjos e de doidos.
A noite finalmente solta-me as mãos, os pés, mostra-me o caminho, e dá-me asas para voar por dentro da névoa que eu mesmo criei. Estou livre para correr, gritar e beijar a noite, estou livre para penetrar a loucura, invadir a madrugada e bater as minhas asas empalhadas bem distante das pessoas comuns.
Uma música misteriosa me convoca. Vou começar a arrumar a minha mala de estrelas e me preparar para partir.

Agora que sei que tudo acabou, que aquilo não vai voltar mais, que a manhã que vem não vai levar facilmente a dor que a noite fez nascer, me vem a lembrança de uma palavra, a recordação qualquer de um olhar, de um gesto, e constato que ficaram faltando palavras, olhares, gestos...
Acordo sobressaltado no meio da noite, tateio na escuridão do quarto, mas só encontro o vazio de uma cama de hotel.
Um ruído de passos na calçada rasga o silêncio de uma noite antiga.

É tarde. As luzes de Paris adormecem nos braços da neblina.


Livro Tristessa,
Thomas G. Marasco


PASSAGE
PASSAGE

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

PARA VOCE.

É em tempos como estes que ela sente mais saudades dele.
Saudades dos momentos que tiveram… 
Saudades dos momentos bons e dos maus também (tudo fazia parte!). 
Sente saudades das conversas sem pé nem cabeça e das discussões que às vezes tinham. 
Sente saudades dos passeios, das duas vidas nada parecidas mas extremamente próximas, 
do sorriso que lhe estampava a face quando ele falava algo engraçado; da cara de raiva dele quando, mesmo sem querer, ela o irritava.
Saudades do contato intenso, único e todo errado que tinha com ele; das manhãs, tardes, noites e madrugadas; do ciúme dele, dos com fundamento e dos sem fundamento também; dos medos que ele apresentava e da maneira como ela cuidava deles. 
Saudades da forma como ele se preocupava com ela; s
audades da fraqueza dele, que dava a ela ânimo para ser forte; do primeiro beijo e do último também.
Saudades da vida que levavam, tão igual e tão desigual; de quando ele aparecia do nada e a fazia sorrir pelo simples fato de estar ali; do olhar intenso dele, e da maneira que ele dizia 
“bom dia” deixando o brilho nos olhos dela; das mãos dele nas dela, a da boca dela na dele. 
Saudades dos braços dela à procura dos dele e dos  braços dele procurando os dela.
Tem saudades dos planos que não fizeram, dos sonhos impossíveis que tentaram ver crescer. 
Sente saudades de tudo que se realizou e de tudo que não se realizou também; dos telefonemas antes de dormir, das  cartas com palavras doces, as palavras duras e a vontade de ser mais, ser diferente; 
da música que até hoje toca para lhe fazer sentir mais saudades. 
Saudades dos presentes no Natal e aniversários, da surpresa nos olhos dele.
Tem saudades dele ao seu lado, da presença dele nela mesmo que à distância; dele fazendo-a chorar e dela fazendo-o sorrir; de tudo o que viveram e do que não conseguiram viver. Saudades da mania dele de não saber amar que a fazia sentir-se a mulher mais amada do mundo;  da freqüência de um no outro, da forma de esquecer o mundo quando estavam juntos. Da maneira simples de ver a vida. Vida que não foi nada simples…
Tem saudades de ser dele, só dele e sempre dele; de pertencer inteiramente a ele, fazendo-lhe parte da  vida; de conhecer-lhe e acompanhar os passos; da história deles, a mais estranha que alguém já viveu e, certamente a mais complicada que Deus escreveu. 
Tem saudades do que contavam um para o outro, dos segredos que mantinham, que escondiam. Saudades do aniversário dele, e do  aniversário dela uma semana depois;
saudades do aniversário dos dois; do tempo deles, de cantar (mas cantar só para ele dentro do carro), saudade do café a cada manhã. 
Tem saudades do namoro escondido, onde só eram ela e ele; 
saudades do amor, dos encontros e dos desencontros.
Saudades de dizer “te amo para sempre”, “forever”; de estar com ele simplesmente por estar.  Saudades da amizade, da força e da confiança nela, neles.  
Sente saudades da voz, do carinho, da paixão, do desejo, das loucuras, do  talento; dele quando estava com ela e  dela quando estava com ele.
Saudades de um casamento que não aconteceu, mas foi quase real. 
Saudades dos filhos que não tiveram, mas cujos rostinhos sorridentes ela chegou a vislumbrar. Saudades da cama que não dividiram, mas onde esquentaram os lençóis hoje frios. 
Saudades do futuro que não viveram. 
Saudades dele. 
Só dele!
É em tempos como estes que ela sente mais saudades dele, pois se ele ainda fizesse parte de sua vida como fazia antes ela seria feliz de novo. 
De alguma forma ele ainda faz… 
Dizem por aí que todo “para sempre” tem um ponto final; 
entretanto, no dela, ela preferiu colocar reticências… 
Talvez por isso não tenha morrido de saudades.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

ALVORECER NA QUINTA DAS LAGRIMAS



Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.

Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fernosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.

De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,

Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?

Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,

Pera o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E despois, nos mininos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Pera o avô cruel assi dizia:

(Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como co a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos que Roma edificaram:

ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar hûa donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.

E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida, com clemência,
A quem peja perdê-la não fez erro.
Mas, se to assi merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.

Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.)

Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?

Qual contra a linda moça Polycena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha),
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:

Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia !
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.

Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.

As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores.



Episódio de Dona Inês de Castro
(Os Lusíadas, Canto III, 118 a 135) 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

PRAÇA DAS SAGRADAS FAMILIAS: Lacerda,Alves,Rodrigues,Duarte,Lopes,Dreier,Chaves,Thommen,Phiton,Lourenço,Rocha,Sousa.



E TODOS OS MEUS LEITORES ANONIMOS, (QUE SÃO TANTOS!),ESPALHADOS PELO MUNDO.



Pracinha da Familia

Deus está nos detalhes.

Porteira para a Paz.

JARDIM DOS SEGREDOS.

Onde a cacatua dorme...

um dos amigos.

jardim de Rara,Hannah,Luan,Dudu,Isabela,Paulo e Luan,Jackeline,Jarbas,Natan,Vida,Tainá,Carley e Hannah

Amigas falantes
o amigo mais fiel e calmo.

fonte aGIL!

simbolo de força e persistencia.

jardim dos SEGREDOS.

a arara que descansa na mangueira

um lampião de gás

o meu anjo para voces.
A rosa que jamais sera esquecida.











detalhes do jardim dos Segredos.

Até no agreste nascem tão lindas flores! Cactus.

cravos de Ilda e Almir.

flores,para que venham os colibris.

que maravilha!

E uma rede preguiçosa pra deitar.

E flores com cores da realeza.

Que o meu mensageiro do vento, leve sempre uma brisa de paz a voces e não se preocupem comigo;
Princesa na Europa,ou Plebéia no Brasil, eu estarei sempre, onde a ventura mora.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011



SAUDADE DOI

Trancar o dedo numa porta dói.

Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua,
dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.

Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.

Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania
de estar sempre ocupada;
se ele tem assistido às aulas de inglês,
se aprendeu a entrar na Internet
e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele continua preferindo Malzebier;
se ela continua preferindo suco;
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
se ele continua cantando tão bem;
se ela continua detestando o MC Donald's;
se ele continua amando;
se ela continua a chorar até nas comédias.

Saudade é não saber mesmo!

Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;

Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você,

provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...
Miguel Falabella

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

REFLITAM, AMADOS LEITORES...

Maiakovski, poeta russo “suicidado” após a revolução de Lenin, escreveu ainda no início do século XX:
Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.
Depois de Maiakovski, Bertold Brecht (1898-1956) escreveu:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Depois de um tempo, Martin Niemöller, símbolo da resistência aos nazistas, escreveu também:
Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar…
Mais recentemente, em 2007, foi a vez de Cláudio Humberto:
Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima.
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles.
Depois fecharam ruas, onde não moro.
Fecharam então o portão da favela, que não habito.
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho…