segunda-feira, 29 de agosto de 2011

PAI NOSSO



  • Pai Nosso que estais no céu, na terra, em todos os mundos espirituais.
  • Santificado e Bendito seja sempre o Vosso Nome, mesmo quando a dor e a desilusão ferirem nosso coração. Bendito Sejas.
  • O pão nosso de cada dia, dai-nos hoje. Pai, dai-nos o pão que revigora as forças físicas, mas dai-nos também o pão para o espírito.
  • Perdoai as nossas ofensas, mas ensinai-nos antes a merecer o Vosso perdão, perdoando aqueles que tripudiam sobre nossas dores, espezinham nossos corações e destroem nossas ilusões. Que possamos perdoá-los, não com os lábios e sim com o coração.
  • Afastai de nosso caminho todo sentimento contrário a caridade. .
  • Que este Pai Nosso seja dadivoso para todos aqueles que sofrem como espíritos encarnados ou desencarnados.
  • Que uma partícula deste Pai Nosso vá até os cárceres onde alguns sofrem merecidamente, mas outros pelo erro judiciário.
  • Que vá até os hospícios iluminando os cérebros conturbados que ali se encontram.
  • Que vá até os hospitais, onde muitos choram e sofrem sem o consolo da palavra amiga.
  • Que vá a todos aqueles que neste momento transpõem o pórtico da vida terrena para a espiritual, para que tenham um guia e o Vosso perdão.
  • Que este Pai Nosso vá até os lupanaranes e erga as pobres e infelizes criaturas que para ali foram tangidas pela fome, dando-lhes apoio e fé.
  • Que vá até o seio da Terra onde o mineiro está exposto ao fogo do grizu e que ele, findo o dia, possa voltar ao seio de sua família.
  • Que este Pai Nosso vá até os dirigentes das nações para que evitem a guerra e cultivem a paz.
  • Tende piedade dos órfãos e viúvas.
  • Daqueles que até esta hora n ão tiveram uma côdea de pão
  • Tende compaixão dos navegadores dos ares.
  • Dos que lutam com os vendavais no meio do mar bravio.
  • Tende piedade da mulher que abre os olhos do ser à vida.
  • E que a Paz e a Harmonia do Bem fiquem entre nós e estejam com todos. Assim seja.
  • Autoria: “ Um Ser de Luz .
  •  Que todos os seres deste mundo sejam felizes 

  • sábado, 27 de agosto de 2011


    Se eu pudesse trincar a terra toda
    E sentir-lhe uma paladar,
    Seria mais feliz um momento...
    Mas eu que nem sempre quero ser feliz.
    É preciso ser de vez em quando infeliz
    Para se poder ser natural...

    Nem tudo é dias de sol,
    E a chuva, quando falta muito, pede-se.
    Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
    Naturalmente, como quem não estranha
    Que haja montanhas e planícies
    E que haja rochedos e erva...

    O que é preciso é ser-se natural e calmo
    Na felicidade ou na infelicidade,
    Sentir como quem olha,
    Pensar como quem anda,
    E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
    E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
    Assim é 
    e assim seja...


    terça-feira, 23 de agosto de 2011



    Lane,olha EU no SEU manequim!

    Senhor, fazei com que eu aceite
    minha pobreza tal como sempre foi.

    Que não sinta o que não tenho.
    Não lamente o que podia ter
    e se perdeu por caminhos errados
    e nunca mais voltou.

    Dai, Senhor, que minha humildade
    seja como a chuva desejada
    caindo mansa,
    longa noite escura
    numa terra sedenta
    e num telhado velho.

    Que eu possa agradecer a Vós,
    minha cama estreita,
    minhas coisinhas pobres,
    minha casa de chão,
    pedras e tábuas remontadas.
    E ter sempre um feixe de lenha
    debaixo do meu fogão de taipa,
    e acender, eu mesma,
    o fogo alegre da minha casa
    na manhã de um novo dia que começa.”




    Cora Coralina

    quinta-feira, 11 de agosto de 2011

    Aos Mestres H.T.P e Patricia Cordeiro



    Quando eu era guri de tudo, já meio desmiolado – minha genitora dizia espeloteado – eu sempre me encafifava a cismar, cobrando de mim para comigo mesmo: – O que será que significa exatamente VIVER? Ou, com outras palavras – Caetanear, por que não? – Existir, a que será que se destina?
    Logo, sondando o diuturno de minha vida, a rotina de minha mãe entre o tanque, a maternidade e o fogão, concluí, imberbe – inocente, puro e besta como cantou Raul Seixas – que EXISTIR era Comer!
    Explico: levantávamos, comida farta. Polenta de milho branco, pão feito em casa, farofa de ovo ou couve-manteiga. Café, leite e bules de chás de ervas caseiras. Isso tudo no mal alvar das manhãs de Itararé.
    Mal e mal, lá pelas nove em que o galo auroral já ia ciscar noutra freguesia, quintais e terreiros, e lá estava eu beliscando um naco de cana-de-açúcar, um abacate manteiga, uma goiaba madura entre mandorovás-guardiões, ou mesmo comendo leite com farinha quando não comprava fiado do rueiro vendedor, um popular pirulito premiado.
    Às onze, claro, sentia-se nas redondezas por atacado, o tempero do arroz-quirera, o ovo frito, quando o meu nariz captava a hora pelos temperos, frituras, em seguida as mães dos piás rebentos a gritarem, cobrando: -Vem comer, Dito!. Tá na hora do almoço, Nelson. Jeronçaaaaaaa, venha se limpar pra bóia, piá!!!!
    Isto posto, almoço lauto, família toda em volta da mesa redonda, de sobremesa uma rapadura, um doce de leite, um doce caseiro feito com arrozina, e, claro, limonada com bicarbonato, quando não uma adorável tubaína de abacaxi ou mesmo tutti-fruti.
    Eu era feliz e sabia que era.
    Bagunça na rua, peladas, bola de meia, catar coquinhos, brincar de carrinhos de rolemãs ou mesmo ler velhos gibis, e lá era hora do rancho da tarde. Quase três da tardinha. Bolo de fubá, um cuque de coco, quando não bolinho de chuva ou mesmo paçoca de amendoim. Eu era um comilão que só vendo.
    Mal a tarde pendurava suas gralhas azuis no delongo do rio da prata, corguinho rente a minha casa de tabuinha, entre cigarras, grilos e pererecas, meu pai abria o portão de nossa casa, punha o acordeão vermelho e, sentado numa cadeira de palha, solava mantras, blues, banzos e outras tristices. Era o aperitivo pra janta reforçada.
    Sopa de fubá com couve rasgada. Ou um arroz com feijão mais picadinho. Batatas com carne moída, ou, boi ralado, como brincávamos de dizer. Meu pai tomava chimarrão. No meu porongo ele punha um pedaço de rapadura de laranja. Delicia.
    Íamos pra igreja, ou, o melhor do ágape, ouvir rádio – Rádio Mairink Veiga do Rio de Janeiro (à bença, Dona Saudade!) – ou mesmo brincar nas quebradas, entre um céu estrelado, uma lua caipira (a lua vem de Itararé), mais os pios noturnos na descalça e cor-de-rosa rua 24 de Outubro, Vila São Vicente, de uma Itararé dos tempos da onça, em que e amarravam cachorros com lingüiça.
    De qualquer modo, lá pelas nove ou nove e meia da noite, um novo café com pão, manteiga não (banha de porco), bule cheio, café torrado e feito na hora, depois era um se assear pra pegar no sono, ouvindo de longe o soar do trem chamado Noturno que ia e vinha, em nossa cidade de divisa, bem na rabeira de São Paulo com o vizinho verdejante estado do Paraná.
    Mal e mal na casa dos sete pra oito anos, o Grupo Escolar Tomé Teixeira. Foi lá que começou tudo. Ali, confesso, mesmo gostando de estudar e já ler um pouco (em meses depois escrevia minhas primeiras trovas pueris); mesmo meu pai passando a cinta se não déssemos no couro nas primeiras letras da escola de gabarito (e boas notas, claro), ficar sentado quatro horas era muito incômodo e chato. E toma cópia, soma, ditado, leitura. Estudar era maçante, confesso.
    O que compensava era a peculiar ternura da professora Dona Jocelina (eu sempre fui muito manteiga derretida), depois Dona Nancy, pelas quais eu era mesmo tremendamente apaixonado. E elas eram caprichosas. E me descobriram nos primeiros chuleios de versos e sensoriedades precoces. Com faniquitos. Aí caprichei de aprontar novos pensares.
    Pois mudei o favo do enfoque: Então viver era estudar? Aí, entrando, claro, no verbo, ler, escrever, pensar e sentir a escada pro alto que é a escola. Pois fui na vazão. Estudar era o sentido da vida. Até hoje, confesso, matutando sobre o destino de todos nós, de onde viemos, para onde vamos, quem somos, configuro como esteio dessas minhas conjecturas, que Existir é mesmo um laboratório de vivências.
    Viver é aprender. A grande viagem da lição de existir, é evoluir aprendendo.
    Estamos aqui somando elos, perdendo burrezas pegajentas, tornando-nos afinados. Também acho que a vida é um grande baile, para o qual fomos convidados a participar. Você vai dançar ou ficar aí parado, enquanto a música toca, todo mundo roda, todos cantam e sorriem?
    Você vai ler, escrever, estudar, pesquisar, enquanto um ou outro mané fica sentado vendo a banda passar, passando em brancas nuvens pela vida, perdendo o sentido da viagem. A vida é isso: Uns dão o show. Outros aplaudem. Ou nem isso.
    Aí vem a canção: É impossível ser feliz sozinho. João Gilberto. Bossa Nova. No entanto, discordo aqui e ali, pois, confesso, ser poeta é a minha maneira de ser sozinho. E um poeta não precisa de solidão para ser sozinho. Sou sozinho de mim mesmo. E então escrevo um mundo paralelo, o mundo-sombra, as coisas e acontecências que meu lado sentidor traduzem em palavras. E vivo pelo meu sonho, minha lenda pessoal. Embasado de estudos, cursos, trocas, vivências. Lições.
    Para sobreviver, fazer o quê?. Larguei de ser chefe de escritório jurídico e fui dar aulas. Adorei. Tornei-me o tiofessor de escolas particulares e públicas, lecionando de história a ética, de geografia a cidadania. Procurando ser um bom referencial, nessa atual falta de Deus, de família, de amor.
    Não sou um professor ardido ou infeliz, destemperado ou chato. Adoro dar aulas, me realizo, e tento tornar aquela aula comum mais alegre, cantando raps, citando letras de Lennon a Renato Russo, compondo blues, contando causos, colocando o lado humanus do aluno no foco daquilo que, regendo um ou outro conteúdo, pretendo passar com experiência, ajudando-o a pensar, produzindo conhecimento, formando cidadãos, inclusive no imediatismo social de seu próprio habitat às vezes muito precário.
    Consigo. Eles captam. Abrem seus corações. E as mentes também, claro, daí o fito didático-pedagógico. E entro no mundo deles. E colho solidões. Déficits afetivos, famílias desestruturadas. Sociedade capenga ao derredor. Falta de amor. E um consumismo aterrador.
    Passo-lhes as minhas lições de vidas. Bolo historias em quadrimhos sobre a natureza, aonde o ser Humano (o aluno) é o que vale, daí humanizando a paisagem, compreendendo a partir de então, mapas, relevos, valores, tamanhos, espaços, paisagens, ambientes, tudo o que o cerca. Vivências.
    E vejo que, como eu fugia da realidade triste (infância pobre) na poesia, muitos carentes fogem nos aprendizados da escola às vezes também carente. Sonhando mudar o meio de tantos contrastes sociais. Passam dias sozinhos em casa. Pais mortos, presos ou não declarados. Mães santas carregando o baque de lutas de sol a sol. E alguns especiais, sozinhos, fechados, entre livros, escrevendo, depondo, relatando. Depoimentos. Eu só fui um mero Inspirador. Fiz minha parte. Valeu? Torno-os meus alunos-filhos. Eles gostam.
    Quando chego ficam algo assustados com a aula diferente do usual e rotineiro. Então isso é Geografia? Quando vou para outra escola me escrevem, falam de saudades. Mas acham um louco que plantou canteiros de sonhos nos labirintos solitários da vidas deles, entre cortiços e mansões, favelas e palácios, becos e marginais, guetos e periferias entregues ao deus-dará nesses tempos bicudos de novas esperanças teimando expectativas de justiças e pagamentos de seculares dívidas sociais.
    Eu acredito. Eles acreditam. Sozinhos ou em grupos, com visão ético-plural-comunitária podemos mudar o mundo. E devemos. Afinal, eles, os alunos-filhos, é que serão os advogados, os médicos, os astronautas, os cantores de rocks, os poetas, os cronistas de amanhã.
    Ou os catadores de latinhas, dizem eles, esperançosos, se aplicando nos estudos. E, confessemos, queremos ter uma bela participação futura, mesmo como doces memórias revisitadas, num Brasil para todos os brasileiros, não para os ricos ficarem mais ricos, e continuarem as gangues palacianas e as máfias do nosso nefasto capitalhordismo mamando nas tetas dos podres poderes.
    Sonhar pode? Então eu não sou o único, como disse Lennon. Ainda bem. Outros chegarão. Junte-se a nós.
    O sonho acabou, mas eu, sozinho ou não, faço a minha parte, reconstruindo-o, cheio de esperança. Para, também, um dia, quando for bem velhinho, olhar para trás e ter a consciência do dever cumprido. E tentar com isso, ter um crédito divinal no Banco Novo Mundo.
    Para onde só vamos com o passaporte do primeiro mandamento-salmo, amando o nosso próximo como se a nós mesmos.
    Afinal, já dizia William Shakespeare: “Depois de algum tempo, você aprende/Que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido/O mundo não pára para que você o conserte./Aprende que o tempo não é algo que possa voltar atrás./Portanto, plante seu jardim e decore sua alma/Em vez de esperar que alguém lhe traga flores

    quarta-feira, 10 de agosto de 2011




    Dudu e Belinha,anões e Deus.

    CHIQUE É CRER EM DEUS!

    Belo artigo e porque não dizer conselho! Me surpreendeu!

    SER CHIQUE SEMPRE - GLÓRIA KALIL

    Nunca o termo "chique" foi tão usado para qualificar pessoas como nos
    dias de hoje.

    A verdade é que ninguém é chique por decreto. E algumas boas coisas da vida, infelizmente, não estão à venda. Elegância é uma delas.
    Assim, para ser chique é preciso muito mais que um guarda-roupa ou closet recheado de grifes famosas e importadas. Muito mais que um belo carro italiano.

    O que faz uma pessoa chique, não é o que essa pessoa tem, mas a forma como ela se comporta perante a vida.

    Chique mesmo é ser discreto.
    Quem não procura chamar atenção com suas risadas muito altas, nem por seus imensos decotes e nem precisa contar vantagens, mesmo quando estas são verdadeiras.

    Chique é atrair, mesmo sem querer, todos os olhares, porque se tem brilho próprio.

    Chique mesmo é ser discreto, não fazer perguntas ou insinuações inoportunas, nem procurar saber o que não é da sua conta.

    É evitar se deixar levar pela mania nacional de jogar lixo na rua.

    Chique mesmo é dar bom dia ao porteiro do seu prédio e às pessoas que estão no elevador.
    É lembrar-se do aniversário dos amigos.

    Chique mesmo é não se exceder jamais!
    Nem na bebida, nem na comida, nem na maneira de se vestir.

    Chique mesmo é olhar nos olhos do seu interlocutor.

    É "desligar o radar", "o telefone", quando estiver sentado à mesa do restaurante, prestar verdadeira atenção a sua companhia.

    Chique mesmo é honrar a sua palavra, ser grato a quem o ajuda, correto com quem você se relaciona e honesto nos seus negócios.

    Chique mesmo é não fazer a menor questão de aparecer, ainda que você seja o homenageado da noite!

    Chique do chique é não se iludir com "trocentas" plásticas do físico... quando se pretende corrigir o caráter: não há plástica que salve grosseria, incompetência, mentira, fraude, agressão, intolerância, ateísmo...falsidade.

    Mas, para ser chique, chique mesmo, você tem, antes de tudo, de se lembrar sempre de o quão breve é a vida e de que, ao final e ao cabo, vamos todos terminar da mesma maneira, mortos sem levar nada material deste mundo.


    Portanto, não gaste sua energia com o que não tem valor, não desperdice as pessoas interessantes com quem se encontrar e não aceite, em hipótese alguma, fazer qualquer coisa que não lhe faça bem, que não seja correta.

    Lembre-se: o diabo parece chique, mas o inferno não tem qualquer glamour!

    Porque, no final das contas, chique mesmo é Crer em Deus!

    Investir em conhecimento pode nos tornar sábios... mas, Amor e Fé nos tornam humanos!

    GLÓRIA KALLIL

    terça-feira, 9 de agosto de 2011

    Se eu pudesse pedir perdão,pediria por não saber traduzir a minha vida,em palavras.Por isto agradeço ao nobre e espetacular Silas Corrêa Leite,por ter escrito a crônica da minha vida.



    Se eu pudesse pedir perdão...por alguma coisa, algum motivo, alguma razão limpa, talvez pedisse ao meu querido pai, principalmente por não tê-lo compreendido exatamente como deveria, e poderia então, pra perdida sorte minha, ter sacado muito bem e antes de sofrer tudo o que sofri; e teria certamente evitado descaminhos, e talvez assim, de alguma forma (doces memórias) e com revisitada imagem dele, os meus destemperos doessem menos no meu peito entrevado, e agora eu tivesse menos marcas das sinuosas trilhas, e assim eu tivesse ainda mais plenamente as asas da saudade dele sobre mim, como uma benção dos céus distantes.

    Se eu pudesse pedir perdão...por alguma coisa, algum motivo, alguma razão limpa, talvez pedisse perdão à minha pobre mãe velhinha, principalmente por ter deixado o nosso lar-doce-lar muito cedo, cedo demais (cedo para sempre) - cortei minha infância pela metade - e caído afoito nas garras de gavião do destino insano, e, em vez de aprender com gestos, sanções, atitudes e eventuais surras de falácias caseiras, as lágrimas dos céus me aconteceram bem mais cedo do que eu pensava e esperava, e eu pude compreender (e posso traduzir tristemente isso agora em banzos-blues), que o amargurado que me tornei, além de algum eventual improviso de jazz com solo de tristices, foi ter tomado peito muito precocemente para enfrentar a barra de viver (a barra pesada de viver), e ter caído no rocambole do mundo como um inocente puro e simples, mesmo as mãos limpas, o peito arfando, os olhos viçados, isto é, simplesmente uma frágil folha de papel rasa em que a vida pôs a malvada descompostura dela, o que me tornou também sofredor precoce, depois refém da sensibilidade extremada, com muito déficit afetivo, e eu lamentavelmente pude, assim, de alguma forma, ser abatido, predado, sofrido, tornar-me - na fuga! na fuga! - um poeta com sânscrita identidade de humildes como licor de jabuticaba de terceira dimensão em realidade substituta.

    Se eu pudesse pedir perdão... por alguma razão, loucura, ou macadame de sofrência, eu pediria perdão às minhas adoráveis seis irmãs, não apenas por tê-las amado tanto, mas por não ter tido competência para tê-las defendido como deveria, e também por não estar presente ainda mais como o outro seio secreto delas, amparando as ocasionais angústias e perdas, carregando as sobras de tantas tintas intimas das vaidades exageradas delas, ou colhendo mais dos filhotes-sobrinhos belos e abençoados que me deram quando eu era peregrino fugidor, e por isso, intimamente por isso eu as amei muito, amo-as mais do que posso traduzir, e as amarei muito além do lar infinital do dono do sol, quando, finalmente e então, os meus globos oculares já com saquinhos de chá sobre as pálpebras inferiores disserem de meu quase um século de vida, e eu poder dizer Adeus para ver o remanso do último lírio selvagem da terra, e então poder ir, finalmente, colher estrelas no campo de estrelas do céu com meu finado genitor, porque, assim também, claro, no vislumbre do reencontro, sei que na casa de meu pai há muitas moradas.

    Se eu pudesse pedir perdão...de alguma forma, de alguma maneira, em algum estágio e devão desse erradio caminho (de caminheiro atiçado pela busca de um farol além da curva do arco-íris), eu iria pedir também que me perdoassem tantas coisas, nesse favo de inventário e partilha, a saber:



    Um: Eu pediria perdão a
    Todas as ruas de minha infância, principalmente aquelas com terrinhas cor-de-rosa de minha descalça pegada íntima, na liberdade de ser puro entre aurorais, encantários, ninhais, e, claro, também, mandorovás, camaleões e fantasmas verdes entre beronhas e formigas-saúvas

    Dois: Eu pediria perdão a
    Todos os quintais das casas de cigano aonde morei, nessa e em outras vidas antigas - ah a aurora que trago da infância! - entre dormentes, trilhos, tatus, canteiros, pardais & cidreiras, porque de eios de água brotaram imaginações saradinhas como cuques de framboesas temporãs

    Três: Eu pediria perdão a
    Todos os milhares de livros que eu li, porque neles, pelo menos assim em tempos de vacas magras, todos os finais eram magnificamente felizes, o Crusoé era uma gaivota santa numa ilha de nascentes limpas, e eu imaginava que, sendo eu mesmo, sempre, teria santerias por atacado nas minhas aventuras de atiçado, sensível, quase um Sentidor da pá virada

    Quatro: Eu pediria perdão a
    Todas aos homens* que eu amei, e que não me amaram, e que assim e talvez por isso mesmo foram infelizes para sempre, como uma desculpa-livramento, um castigo-andaime, uma solidão-palhaço, um prelúdio-talismã. Até porque, confesso, o meu primeiro amor foi uma parede. Que eu trago e tenho comigo, como um íntimo butim, como um alforje de estrelas que despenco cada vez que escrevo. E eu escrevo para não chorar. E eu faço poemas porque não sei morrer sozinho como uma lesma cega cor de leite

    Cinco: E pediria perdão por
    Todos os malditos(..) sonhos que eu tive. Eu, tola*, achava que iria crescer e mudar o mundo. Só os imbecis são felizes? Primeiro queria ser presidente, depois poeta, afinal restei-me educador. Como viram, nunca soube me escolher na melhor parte do filé das víboras, nos tapumes dos chacais, nos guizos dos incrédulos. Fui, perdoem, cem por cento eu mesmo e todo emocional como um baú de estimas. Deus sabe com quantas lágrimas faz o castelo de nossas idas e vindas (não há perdão no esquecimento)

    Seis: Eu pediria perdão a
    Todos os inimigos, e circunstancialmente os tive em algum lugar ou vareio de palavras, e que por algum motivo me magoaram, me traíram como margens abruptas de um rio inocente. Alguns eu perdoei como se perdoa um esquilo cego por morder seu calcanhar de Aquiles, a outros eu acabei por - moendas do estilo da vida nua e crua - a dar pão e água, e, confesso, muitos eu matei tanto dentro de nim como um surto-circuito, que eles mesmo se anularam com seus nós íntimos, como cactos vítreos de rudezas pegajentas em clãs espúrios

    Sete: Eu pediria perdão a
    Todos os anjos que me ajudaram, e que devem me perdoar mesmo para muito além do eternamente, porque, aqui e ali, nalguma curva do caminho, sem o saber, sem querer e mesmo sem maldade, eu os abandonei entre um mata-burros, uma pinguela ou um portal. E há lugares (o mundo sombra?) que anjos não freqüentam. E eu atinado fui buscar candeeiro na boêmia, troçando alhures (troféus de mixórdias), trocando flores por cançonetas, amando tardes de chuvas e minguados afetos de ocasião, quase purgando interioridades com primaveras que já deram o que tinham de dar


    Oito: Eu pediria perdão
    Por todas as preces, todos os brancos lenços de adeuses (até os escondidos), todos os poemas escritos na mais cuneiforme intenção do refluxo do inconsciente - que é quando eu me despojo, me decomponho, pondo a alma para respirar - escrevendo de supetão o rebite de uma idéia, um ideal, entre um copo de leite azedo, um mimo celestial ou uma pestilenta tentativa de abismo que escrevendo evito um pouco

    Nove: Eu pediria perdão
    A todas as árvores que fui, de alguma maneira e por algum motivo, medidas as proporções, de groselheiras secas a laranjeiras sem guirlandas brancas, como se um dia, de verdade eu tivesse sido alguma espécie de árvore, noutro século, noutra encantação, e, por algum fruto proibido vim a ser vetado de ser outra vez, depois espiritualmente perdi o sagrado direito de tê-las comigo no DNA, e aqui me deixaram em dimensão-placenta errada, não apenas como um castigo pro carbono virar diamante, ou não, mas para como, tentativa de cicatriz, eu de novo aprender a ser raiz, a ser copa, a ser tronco, a ser pétala, a dar flores & frutos, tudo de novo, tudo outra vez, como uma canga, um pesadelo vivido, no arremate de uma alma superior cerzindo minhas perdas entre ofícios testamenteiros e arrozais de desculpas com azedumes terçãs

    Dez, finalmente
    Eu pediria perdão, ainda, nesses meus dez mandamentos-testemunhos (?) de desalinho e dor (poetas não têm peças de reposição), a àquilo que fui de alguma maneira, por algum motivo, sem o saber, sem o querer, sem o poder, mas identificando afinidades íntimas:


    -Cardume: Por ter sido um pouco areal, um pouco atol, um pouco rede, um pouco albatroz no mar de sargaços da vida, então paguei a duplicata da perda a ser isso também me serviu como lima nova em ferrugens adquiridas

    -Tempestade: Por ter navios fantasmas em mim, ser sobrevivente de naufrágios abismais, trazer estranhas marcas disso, fui isso e me feri de ver o que provoquei em ira insana, atemporal, obedecedor involuntário de desastres e tragédias

    -Chuva de abril: Por saber que nada me pertence, nada do que me foi dado é gratuito, tudo tem um preço e eu não acredito em valores a não ser o lado pérola da ostra, por isso pago dobrado esse crime de existir em Nau Catarineta errada, indo e vindo, carpinteiro das águas no teatro de absurdo dos ciclos que jamais dominarei

    -Cisterna: Porque ainda tenho lágrimas para tornear poemas por séculos e séculos, não tendo medida para a minha tristeza terreal, e nem me sabendo livro aberto em página errada, assim nunca poderei ordenar à dor que saia para sempre de mim, mesmo que eu ande pelo vale da sombra da morte...

    -Deserto: Porque sou solitária* como uma nave sideral pirata clonada de outra banda cósmica, e solitária* me tenho como ser espúrio em vinagre vencido e injusta*dessa existência pagã, então escrevo para não ficar louca*, escrevo porque o meu cálice transborda e ninguém tem piedade por eu ser como porta-lapsos em núcleo de paradoxos

    -Eco: Tudo o que sou, soa alto e claro, o que não sou, não sabendo inteiramente me assusta (cacos do espelho), então eu peço perdão por ter amado de repente quem não devia, dito adeus quando era para ficar estagiária* aprendido ser leitora de tudo quando deveria ser plantadora de campos de lavandas em outros mundos em que a morte não existe.

    -Barco encalhado: Isso eu sou e serei por muito tempo, mesmo não tenho ainda inteireza do que isso me representa ou me servirá, até porque, em frente ao mar eu me sinto o próprio mar, como se a mãe-natureza me fizesse carbono do sal marinho, depois gaivota número um, depois ilha de areia, depois pobre foca, até que eu perdesse asas ou guelras, até que eu pudesse nadar e ser átomo, esporo, pólen, e chover na horta da espécie humana com seu bezerro de ouro, entrando então pela porta dos fundos da existência só para exatamente pôr o dedo nessa ferida acesa que é o tão mal conjugado verbo viver

    E, por fim, perdoem musas e boêmios, perdoem anjos e vigiadores de quarteirão, eu me resto aqui uma aprendiz de tudo, entre um vazio e o vácuo, criando borboletas de palavras, sendo sempre um mulher* fora do meu tempo.Absolutamente,fora do meu tempo,do meu dia,da minha hora*...
    Quando eu era piá de tudo, amava estar com os idosos tão sábios. Agora que estou quase velho, adoro lidar com crianças.

    Sempre achei, aliás, que iria morrer muito cedo e criança.

    Espero morrer criança com quase cem anos.

    E que Deus tenha piedade de nós.

    À bença, Mãe. Ave Estância Boêmia de Itararé.

    Porque Hoje é Sábado, aviso aos incautos navegadores de primeira hora: Bolinhos de chuva encharcam com cervejas bentas, e criam mais tecido adiposo nas vaidades herdadas.


    (FIM)

    segunda-feira, 8 de agosto de 2011







    Os Três Mal-Amados

    O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

    O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

    O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

    O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

    Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

    O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

    O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

    O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

    O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

    O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

    O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

    João Cabral de Melo Neto

    quinta-feira, 4 de agosto de 2011

    DEDICO ESTE TEXTO AO MEU PRIMEIRO,SEGUNDO.TERCEIRO E ÚLTIMO AMOR.AMANTES E TODOS O DEMAIS AMORES,AOS MEUS IRMÃOS,AMIGOS,COLEGAS,COMPANHEIROS,FILHOS(REAIS OU POSTIÇOS)FAMÍLIA ENFIM,A TODOS OS QUE EU AMEI UM DIA E SEM QUERER,COM CERTEZA,DE ALGUMA FORMA MAGOEI. (LEONE LACERDA)








    NINGUÉM É SUBSTITUÍVEL !!!

    Na sala de reunião de uma multinacional o Diretor nervoso fala com sua equipe de gestores.

    Agita as mãos, mostra gráficos e, olhando nos olhos de cada um ameaça: "ninguém é insubstituível"!

    A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião em meio ao silêncio. Os gestores se entreolham, alguns abaixam a cabeça. Ninguém ousa falar nada.

    De repente um braço se levanta e o Diretor se prepara para triturar o atrevido:

    - Alguma pergunta?
    - Tenho sim. E Beethoven?
    - Como? - o encara o Diretor
    - O senhor disse que ninguém é insubstituível e quem substituiu Beethoven?
    O Diretor parece confuso e faz-se silêncio na sala.

    O funcionário fala então:

    - Ouvi essa história esses dias, contada por um profissional que conheço e achei muito pertinente falar sobre isso. Afinal as empresas falam em descobrir talentos, reter talentos, mas, no fundo continuam achando que os profissionais são peças dentro da organização e que, quando sai um, é só encontrar outro para por no lugar. Então, pergunto: quem substituiu Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Gandhi? Frank Sinatra? Garrincha? Santos Dumont? Monteiro Lobato? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Pelé? Paul Newman? Tiger Woods? Albert Einstein? Picasso? Zico? Etc.?.

    O rapaz fez uma pausa e continuou:

    - Todos esses talentos que marcaram a história fazendo o que gostam e o que sabem fazer bem, ou seja, fizeram seu talento brilhar. E, portanto, mostraram que são sim, insubstituíveis. Que cada ser humano tem sua contribuição a dar e seu talento direcionais para alguma coisa. Não estaria na hora dos líderes das organizações reverem seus conceitos e começarem a pensar em como desenvolver o talento da sua equipe, em focar no brilho de seus pontos fortes e não utilizar energia em reparar seus 'erros ou deficiências'?

    Nova pausa e prosseguiu:

    - Acredito que ninguém se lembra e nem quer saber se BEETHOVEN ERA SURDO, se PICASSO ERA INSTÁVEL, CAYMMI PREGUIÇOSO, KENNEDY EGOCÊNTRICO, ELVIS PARANÓICO. O que queremos é sentir o prazer produzido pelas sinfonias, obras de arte, discursos memoráveis e melodias inesquecíveis, resultado de seus talentos. Mas cabe aos líderes de uma organização mudar o olhar sobre a equipe e voltar seus esforços, em descobrir os PONTOS FORTES DE CADA MEMBRO. Fazer brilhar o talento de cada um em prol do sucesso de seu projeto.

    Divagando o assunto, o rapaz continuava.

    - Se um gerente ou coordenador, ainda está focado em "melhorar as fraquezas" de sua equipe, corre o risco de ser aquele tipo de "técnico de futebol", que barraria o Garrincha por ter as pernas tortas; ou Albert Einstein por ter notas baixas na escola; ou Beethoven por ser surdo. E na gestão dele o mundo teria PERDIDO todos esses talentos.

    Olhou a sua a volta e reparou que o Diretor, olhava para baixo pensativo.
    Voltou a dizer nesses termos:

    - Seguindo este raciocínio, caso pudessem mudar o curso natural, os rios seriam retos não haveria montanha, nem lagoas, nem cavernas, nem homens, nem mulheres, nem sexo, nem chefes, nem subordinados. Apenas peças. E nunca me esqueço de quando o Zacarias dos Trapalhões "foi pra outras moradas". Ao iniciar o programa seguinte, o Dedé entrou em cena e falou mais ou menos assim:"Estamos todos muito tristes com a 'partida' de nosso irmão Zacarias... e hoje, para substituí-lo, chamamos: NINGUÉM, pois nosso Zaca é insubstituível." - concluiu o rapaz e o silêncio foi total.

    Conclusão:
    NUNCA ESQUEÇA: VOCÊ É UM TALENTO ÚNICO! COM TODA CERTEZA NINGUÉM TE SUBSTITUIRÁ!

    "Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo..., mas posso fazer alguma coisa. Por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso."

    "NO MUNDO SEMPRE EXISTIRÃO PESSOAS QUE VÃO TE AMAR PELO QUE VOCÊ É. E OUTRAS. QUE VÃO TE ODIAR PELO MESMO MOTIVO. ACOSTUME-SE A ISSO. COM MUITA PAZ DE ESPÍRITO."

    É bom para refletir e se valorizar!

    VOCÊ É INSUBSTITUÍVEL !!!!!



    Por favor,quem conhecer o Autor,me informe.
    Recebí este texto,com prazer,do Dr.Ary Barbosa Santos,
    para o qual, EU fui insubstituível.