terça-feira, 14 de setembro de 2010



Sou mulher como outra qualquer.
Venho do século passado
e trago comigo todas as idades.
Nasci numa rebaixa de serra
Entre serras e morros.
“Longe de todos os lugares”.
Numa cidade de onde levaram
o ouro e deixaram as pedras.
Junto a estas decorreram
a minha infância e adolescência.
Aos meus anseios respondiam
as escarpas agrestes.
E eu fechada dentro
da imensa serrania
que se azulava na distância
longínqua.
Numa ânsia de vida eu abria
O vôo nas asas impossíveis
do sonho.
Venho do século passado.
Pertenço a uma geração
ponte, entre a libertação
dos escravos e o trabalhador livre.
Entre a monarquia caída e a república
que se instalava.
Todo o ranço do passado era presente.
A brutalidade, a incompreensão, a ignorância, o carrancismo.
Os castigos corporais.
Nas casas. Nas escolas.
Nos quartéis e nas roças.
A criança não tinha vez,
Os adultos eram sádicos
aplicavam castigos humilhantes. 
Tive uma velha mestra que já
havia ensinado uma geração
antes da minha.
Os métodos de ensino eram
antiquados e aprendi as letras
em livros superados de que
ninguém mais fala.
Nunca os algarismos me
entraram no entendimento.
De certo pela pobreza que marcaria
Para sempre minha vida.
Precisei pouco dos números.
Sendo eu mais doméstica do
que intelectual,
não escrevo jamais de forma
consciente e racionada, e sim
impelida por um impulso incontrolável.
Sendo assim, tenho a
consciência de ser autêntica.
Nasci para escrever, mas, o meio,
o tempo, as criaturas e fatores
outros, contra-marcaram minha vida.
Sou mais doceira e cozinheira
Do que escritora, sendo a culinária
a mais nobre de todas as Artes:
objetiva, concreta, jamais abstrata
a que está ligada à vida e
à saúde humana.
Nunca recebi estímulos familiares para ser literata.
Sempre houve na família, senão uma
hostilidade, pelo menos uma reserva determinada
a essa minha tendência inata.
Talvez, por tudo isso e muito mais,
sinta dentro de mim, no fundo dos meus
reservatórios secretos, um vago desejo de analfabetismo.
Sobrevivi, me recompondo aos
bocados, à dura compreensão dos
rígidos preconceitos do passado.
Preconceitos de classe.
Preconceitos de cor e de família.
Preconceitos econômicos.
Férreos preconceitos sociais.
A escola da vida me suplementou
as deficiências da escola primária
que outras o destino não me deu. 
Foi assim que cheguei a este livro
Sem referências a mencionar.
Nenhum primeiro prêmio.
Nenhum segundo lugar.
Nem Menção Honrosa.
Nenhuma Láurea.
Apenas a autenticidade da minha
poesia arrancada aos pedaços
do fundo da minha sensibilidade,
e este anseio:
procuro superar todos os dias
Minha própria personalidade
renovada,
despedaçando dentro de mim
tudo que é velho e morto.
Luta, a palavra vibrante
que levanta os fracos
e determina os fortes.
Quem sentirá a Vida
destas páginas...
Gerações que hão de vir
de gerações que vão nascer.

(Meu Livro de Cordel, p.73 -76, 8°ed, 1998)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

AS FADAS JÁ NÃO MORAM MAIS EM MIM.

As fadas já não moram em mim...
foram-se como o tempo, as pessoas, os amigos e inimigos que passaram...
tiveram de ir-se embora porque eu já não as deixava voar, tinha medo de as perder...
E mesmo assim perdi-as, como se perde tudo o que se tem algum dia.
Não pude evitar, era o destino delas voarem...
não se pode contrariar o destino nem passar por ele de olhos e ouvidos tapados, os ciclos são para serem cumpridos.

As fadas já não moram em mim...
mas já não choro,
agora sorrio por saber que é o voo que as torna felizes...
Por isso sempre que alguma se perde e vem ter comigo já não a prendo,
consolo-a e encorajo-a a voar...

Clavedelua

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

CASA E LAR




Casa é uma construção de cimento e tijolos.
Lar é uma construção de valores e princípios.
Casa é o nosso abrigo das chuvas, do calor, do frio...
Lar é o abrigo do medo, da dor e da solidão.
Casa é o lugar onde as pessoas entram para dormir, usar o banheiro, comer.
Onde temos pressa para sair e retardamos a hora de voltar.
O lar é o lugar onde os membros da família anseiam por estar nele, onde refazem suas energias, alimentam-se de afeto e encontram o conforto do acolhimento.
É onde temos pressa de chegar e retardamos a hora de sair.
Numa casa criamos e alimentamos problemas.
O lar é o centro de resolução de problemas.
Numa casa moram pessoas que mal se cumprimentam e se suportam.
Num lar vivem companheiros que, mesmo na divergência, se apóiam e nas lutas se solidarizam.
Numa casa moram pessoas que mal se cumprimentam e se suportam.
Num lar vivem companheiros que, mesmo na divergência, se apóiam e nas lutas se solidarizam.
Numa casa desdenha-se dos nossos valores.
No lar sonhamos juntos.
Numa casa há azedume e destrato.
Num lar sempre há lugar para a alegria.
Numa casa nascem muitas lágrimas.
Num lar plantam-se sorrisos.
A casa é um nó que oprime, sufoca...
O lar é um ninho que aconchega.
Se você ainda mora em uma casa, nós o (a) convidamos a transformá-la, com urgência, em um lar e que Jesus seja sempre o seu convidado especial.



Texto de: Abigail Guimarães (inspirada numa reflexão de Alba Magalhães David)