sábado, 31 de julho de 2010

OUTONO ANUNCIADO.

O verão passou e foi intenso...
a nova estação chegou branda e silenciosa;
nem tive tempo de perceber que o meu rosto ganhou algumas marcas...
que o ipê já está sem flor e o tom castanho da paisagem deu novas nuances à rua, à casa, às pessoas.
E tudo começou a ficar sem cor, sem nexo,
sem a chama alaranjada que ilumina os meus olhos.
O vento tem batido mais forte na janela...
e as emoções começam a fluir: disformes, melancólicas; espalham-se pela minha mente em profusão.
De nada adiantou me aproximar da porta,
se eu estava aguardando a primavera.
As folhas começaram a se acumular na nossa varanda,
mas eu não quis ouvir o ranger dela,
pisando no passado para não abrir caminho
a lembranças que machucam.
Eram sete horas da noite quando ouvi você dizer aquela frase que até agora soa na minha mente e me põe em confusão: -
 Por que você abandonou o jardim?
Eu não soube responder,
mas queria, queria muito ter um argumento qualquer para justificar o meu descaso, a minha reclusão.
Talvez eu dissesse que foi culpa da estação.
Foram anos, muitos anos cuidando do jardim,
olhando da varanda as folhas que amarelavam
e ficavam rotas até serem levadas pelo vento que por ali passava.
Não ligava tanto para as folhas,
eram como as pedras do jardim,
mas gostava de olhar as hortênsias em mutação,
ganhando novos tons até se desprenderem do galho e secarem ao sol gélido e acinzentado do início das manhãs. Mas mudei junto com os anos;
é novamente outono...
e eu não gosto mais de ver as folhas caindo.
Os dias amanhecem frios e nublados.
A rotina matinal tem sido entediante.
Só sinto vontade de voltar a dormir e acordar na primavera, ficar horas a fio olhando o colorido das flores que começam a ganhar vida,
depois tomar um banho,
colocar os óculos escuros
e sair sem rumo.
Na primavera devemos sair sem rumo,
sozinhos, sem olhar o relógio,
voltar só depois que o sol estiver morrendo no horizonte.
Se o calor estivesse presente,
ouviria uma música agora,
arrumaria a casa,
faria um sorriso de contente,
abandonaria os pensamentos ruins.
Talvez chorasse de felicidade.
Essa emoção também me dói às vezes.
Mas é outono e nada disso será possível;
sinto-me o próprio obstáculo no caminho.
O casulo está fechado com muros altos...
preciso proteger-me de mim mesma,
dos olhares curiosos que me atormentam.
Eu queria a solidão indizível,
sem etapas, embalada apenas pela melodia que os meus pés querem dançar,
queria dizer as palavras certas na hora exata,
ainda que desequilibradas, fantasiadas, intraduzíveis.
Mas o tempo não me permite criar uma vida inventada,
tirar dos meus sonhos aquilo que acredito ser a minha felicidade.
Preciso bem mais do que um punhado de alento para sincronizar os passos de acordo com a minha verdade.
Porque no fundo,
eu não quero alterar as coisas,
eu não quero alterar nada,
quero apenas provar a doçura do outono na boca
e abrir a porta...
sem achar que é o cinza que me entristece.

Quem lê os meus emails ou blog, sabe que ontem, eu escreví:
TA TUDO CINZA. E estava.Passei o dia a admirar a paisagem cinzenta, de fato, que tem feito aqui, nessa triste e feliz vila.
o cair da tarde,foi tão cinza, que me lembrou o velho continente no inverno.
Tudo se fez cinza.
Em função disto, resolví postar este texto da Professora Luciana P.,que traduziu exatamente,o meu sentimento de ontem.
Leone Lacerda