segunda-feira, 12 de abril de 2010

A imagem é chocante...


A imagem do fígado de quem bebe muito/toma analgésicos/ou tem diabetes.

O que faz você feliz?

Cuidar de você mesmo seria uma boa resposta.

Beber.
Fumar.
Maldizer a vida.
Tomar analgésicos.
Comer gordura.
Comer demais.
Comer “demenos”.
Dormir demais.
Dormir “demenos”

Envelhecer.

Já parou pra pensar que você vai envelhecer?
E nem acha tão legal assim...

Morrer.

Já parou pra pensar que você vai morrer?

Pois é, e nem é o descanso que você deseja.

Tenho pensado muito nesses assuntos ultimamente. Não por acaso. Vi um documentário com os últimos dois anos de vida da atriz Farrah Fawcet. E confesso que fiquei chocada.
Se você faz parte da turma que acha que pode fazer tudo porque vai morrer “mesmo”. Prepare-se para uma surpresa.
A morte vem mesmo, mas vem lenta. Dolorosa. Demorada. Ela não te fulmina. Ela te consome. Dia a dia, cada pedaço seu é consumido lenta e dolorosamente. Você vai levar anos pra morrer...
A gordura da picanha, o cigarro, o açúcar, os excessos vão povoar sua mente todos os anos que você passar na cama. Desejando ardentemente a cura, enquanto a maldita morte te ronda.
Foi essa a lição que tirei do documentário.
Esse “você” aí acima no texto serviu pra mim.
Mas foi a coisa mais importante que aprendi na vida.
“viver intensamente é frase de quem não valoriza a vida. Viver com amor próprio, é coisa de quem quer envelhecer e morrer com dignidade” –frase minha, conclusão minha.
Eu também fiz tudo que me deu na telha, pela vida afora.
Mas chegou a hora de parar. Eu quero recuperar meu corpo, quero envelhecer me amando, cuidando da única coisa que realmente tem valor. A minha vida.
Se me dá um aperto no peito, uma falta de ar, já me desespero achando que é a morte. Então isso mostra que a vida tem muito valor.
E eu quero viver.
Quero trocar meus lençóis e dormir com o cheiro da lavanda que o sabão deixa neles.
Quero tomar um banho morno me encher de cremes, todos os dias.
Quero me olhar no espelho e pensar “ ainda não sou de se jogar fora”
Quero me amar, cada dia mais.
Quero ouvir a minha respiração, lenta e pausada na hora de dormir e pensar
“estou viva”.
Quero agradecer a Deus todos os dias. Porque tenho muitas pessoas que amo e que me amam.
Quero ser feliz, sem excessos. Sem desespero. Sem precisar de uma nova emoção a cada dia, ou de uma garrafa de bebida pra dar sentido a minha vida.

Quero isso pra mim e pra todos vocês.

Esse assunto vai continuar por alguns dias ainda, porque ele é longo.

Avante!!! O tempo é curto e a jornada longa.
Lane Lacerda

TER OU NÃO TER NAMORADO

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil por que namorado de verdade é muito raro.
Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrimas, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.
Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil .
Mas namorado é mesmo difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem quer se proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia, pedindo proteção.
A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira, basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem amor, é quem não sabe o gosto de namorar.
Se você tem três pretendentes , dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter um namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade.
Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas, do carinho escondido na hora em que passa o filme, de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhadas quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo metrô, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compras junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e do amado e sai com ela para parques, fliperama, beira d´agua, show de Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonho ou musical do metrô.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado.
Não tem namorado quem ama sem gostar, quem gosta sem curtir, quem curte sem se aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, de madrugada ou no meio dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações, quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternuras escove a alma com leves fricções de esperança.
De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passar debaixo de sua janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de conto de fadas.
Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente começar a fazer sentido.”

Artur da Távola

Para uma menina com uma flor

Para Leone,a menina flor que eu conhecí,de um admirador.

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino,
que aliás você não vai nunca,
porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma,porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.
E porque você quando sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar.
E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido.
E porque você tem um rosto que está sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, como uma santa moderna, e anda lento, a fala em 33 rotações mas sem ficar chata.
E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta, nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca.
E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda, porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho.
E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas.
E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara– na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris;
fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê.
E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, “Minha namorada”, a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora – tão purinha entre as marias-sem-vergonha – a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.
E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos – eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações – porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.


Vinicius de Moraes