segunda-feira, 15 de novembro de 2010

{ } 1947, Berna - Suíça - Clarice Linspector

Saudades dos meus passeios nas noites geladas de Berna, jogando xadrez pelas avenidas, conhecendo pessoas maravilhosas...

causando até inveja em algumas mulheres incompetentes (especialmente mulheres,juro!) que pensam que brasileiras só visitam a Europa para se prostituir. Ridikulo!!!. É preciso muito, para passear pelas noites européias e não somente um corpo bonito e uma mente rude.(Leone Lacerda)


“Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. 

Até cortar os defeitos pode ser perigoso - 
nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...  
Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. 
Quase quatro anos me transformaram muito.
Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... 
Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - 
cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. 
E com isso cortei também a minha força. 
Ouça: 
respeite mesmo o que é ruim em você, sobretudo o que imaginam que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, 
copie você mesma 
- é esse seu único meio de viver. 
Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. 
Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. 
Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. 
Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. 
Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. 
Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma”


Carta publicada por Caio F. de Abreu em 1995, onde autenticidade de Clarice Lispector é duvidosa. Mas ele mesmo comenta: "A beleza e o conteúdo de humanidade que a carta contém valem a pena a publicação...

Nenhum comentário: