sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

PANORAMA ALÉM.



Não sei que tempo faz, nem se é noite ou se é dia.
Não sinto onde é que estou, nem se estou. Não sei de nada.
Nem de ódio, nem amor. Tédio? Melancolia.
-Existência parada. Existência acabada.

Nem se pode saber do que outrora existia.
A cegueira no olhar. Toda a noite calada
no ouvido. Presa a voz. Gesto vão. Boca fria.
A alma, um deserto branco: - o luar triste na geada...

Silêncio. Eternidade. Infinito. Segredo.
Onde, as almas irmãs? Onde, Deus? Que degredo!
Ninguém... O ermo atrás do ermo: - é a paisagem daqui.
(Barra do Choça!)

Tudo opaco... E sem luz... E sem treva... O ar absorto...
Tudo em paz... 
Tudo só... 
Tudo irreal... 
Tudo morto...
Por que foi que eu morri? 
Quando foi que eu morri?
Cecília Meireles

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