sábado, 7 de agosto de 2010

Era uma vez...
As histórias maravilhosas começam assim.
Não importa o tamanho delas.
Se começam por era uma vez, são sempre maravilhosas.

Pois era uma vez um homem.
Um homem pobre que de precioso só tinha um cálice.
Nele, ele bebia a água do riacho que passava próximo à sua casa. Nele, bebia leite, quando o conseguia, em troca de algum trabalho.
Era pobre, mas feliz.
Feliz com sua esposa, que o amava.
Feliz em sua pequena casa, que o sol abraçava nos dias quentes, tornando-a semelhante a um forno.
Feliz com a árvore nos fundos do terreno,
onde escapava da canícula.
Saía pelas manhãs em busca de algum trabalho,
que lhe garantisse o alimento a ele e à esposa, a cada dia.
Assim transcorria a vida, em calma e felicidade.
Nas tardes mornas, quando retornava ao lar,
era sempre recebido com muita alegria.
Era um homem feliz. Trazia o coração em paz,
sem maiores vôos de ambição.
Então, um dia...
Sempre há um dia em que as coisas acontecem
e mudam o rumo da História.
Pois, nesse dia, nem ele mesmo sabendo o porquê,
uma lágrima caiu de seus olhos, dentro do cálice.
De imediato, o homem ouviu um pequeno ruído,
como de algo sólido, que bateu no fundo do recipiente.
Olhou e recolheu entre os dedos uma pérola.
Sua lágrima se transformara em uma pérola.
Então, o homem pensou que poderia ficar muito rico,
se chorasse bastante.
Como não tinha motivos para chorar, ele começou a criá-los. Precisava se tornar uma pessoa triste, chorosa, para enriquecer.
Com o dinheiro da venda das pérolas pensava comprar lindas roupas para sua esposa, uma casa mais confortável, propriedades, um carro.
E assim foi.
Ele começou a buscar motivos para ficar triste e para chorar muito.
Conseguiu muitas riquezas.
Ele poderia tornar a ser feliz.
No entanto, desejava mais.
As pequenas coisas que antes lhe ofertavam alegrias,
agora, de nada valiam.
Que lhe importava o raio de sol para se aquecer no inverno?
Com dinheiro, ele mandou colocar calefação interna em toda sua residência.
Por que aguardar os ventos generosos para arrefecer o calor nos dias de verão?
Com dinheiro, ele pediu para ser instalado ar condicionado em toda a sua casa.
E no carro, e no escritório que adquiriu para gerir os negócios que o dinheiro gerara.
E a tristeza sempre precisava ser maior.
Do tamanho da ambição que o dominava.
Nunca era o bastante.
Os afagos da esposa, no final do dia e nos amanheceres de luz deixaram de ser imprescindíveis.
Ele não podia perder tempo.
Precisava chorar.
Precisava descobrir fórmulas de ficar mais triste
e derramar mais lágrimas.
Finalmente, quando o homem se deu conta, estava sem esposa,
sem amigos.
Só...
Com seu dinheiro, toda sua imensa fortuna.
Chorando agora, estava tão desolado,
que nem mais se importava em despejar o dique das lágrimas no cálice.
A depressão tomara conta dele e nada mais tinha significado.
A história parece um conto de fadas.
Mas nos leva a nos perguntarmos quantas vezes desprezamos os tesouros que temos, indo à cata de riquezas efêmeras.
Pensemos nisso e não desperdicemos os valores verdadeiros de que dispomos.
Nem pensemos em trocá-los por posses exageradas.
A tudo confiramos o devido valor,
jamais perdendo nossa alegria.
Haveres conquistados à troca de infelicidade,
somente geram infelicidade.



(O caçador de pipas de Khaled Hosseini)

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